Mulheres que Correm com os Lobos

Primeira Leitura

Ao menos essa inspiração não quero trair. Sem sombra de dúvidas vale a pena falar sobre como foi, finalmente, finalizar esse livro.

O processo de ler ele é um deleite: a identificação que tenho com cada frase é um delírio. Não é exagero, cada frase desse livro, em especial quando Clarissa faz suas descrições, é uma evocação da mulher selvagem em mim.

Quando terminei ele hoje, estava confiante e disposta a desenhar a imagem minha, da minha vó e bisavó que tanto sonho, há tanto tempo; escrever todas as minhas ideias sobre quais livros e crônicas quero escrever… Queria começar o capítulo um de um livro com uma heroína guerreira, queria dar os primeiros passos… Mas me deixei apenas ficar no computador e sonhar com quantas besteiras quero comprar no Brasil.

Ok, começando de novo:

Eu queria usar a minha voz. Cheguei no parque blandan e fui ler o livro em voz alta, em português, com alguns franceses muito provavelmente querendo ficar do meu lado. Por estar toda centrada na minha vergonha de ler em voz alta, já imaginava que ninguém queria estar do meu lado ou que incomodava pessoas… Até quem sem se importar com nada parou do meu lado nos bancos e aproveitou o celular no parque.

E foi muito poderoso ler aquilo tudo em voz alta. Ler esse livro todo é poderoso, mas em voz alta foi diferente: eu tive mais concentração, porque queria ouvir a minha voz. Era bom me ouvir dizendo aquelas frases todas lindas. Eu me afirmava ainda mais, sentia a mulher selvagem mais perto.

Era muito bonito o verde do parque logo no começo da primavera no fundo, compondo uma paisagem que continha (tudo, o que quer que fosse), diferente do meu quarto que é uma imensidão de paredes brancas e objetos. O brilho do sol, o vento, poder ouvir minha própria voz: tive vontade também de ir pro teatro romano e declamar meu poema do ir trabalhar, ler outras partes daquele livro.

Foi fortalecedor ler sobre o casamento de pessoas tão diferentes logo no fim do livro quando quero terminar um relacionamento da mesma forma que me traz uma segurança enorme ter palavras que tocam tanto meus valores dizendo que a espera e o descanso são duas ações tão importantes na vida.

Isso também é algo que ela discute no livro: na vida, a gente vai ter mais um monte de mães, pais, teremos muitas pessoas que vai nos iniciar, acompanhar nossa jornada… E pra mim esse livro é mais um guia. A sensação que ele me traz é um guia.

Quando esqueço e adormeço querendo me desfazer de tantas cobranças e inseguranças, é um bote salva-vidas pra um canto no meu corpo e mente que é independente de todo esse mundo externo, concreto. É uma forma deliciosa de me apoiar e voltar para aquela sensação de quando tinha doze anos e conseguia escrever, imaginar…

Ler esse livro é saber que os meus sonhos ainda estão vivos em algum lugar dentro de mim, e que não importa quão difícil a vida seja, ou o quanto ela vai mudar, eu ainda estou aqui.

Fora quando ela fala sobre como somos feitos de histórias…

Tudo o que eu li.

Anda difícil acessar todo e qualquer sentimento e eu queria um remédio pra isso.

Fico satisfeita de ter esperado até agora para terminar de ler. E agora que terminei, quero reler com muita calma.

Quero mil coisas, mas ando fazendo pouquíssimas. Me permitir isso é bom também.

Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *